A aplicação de regra proporcional e o infraseguro generalizado pode ser invertido pelo impacto mediático das consequências do mau tempo?
A regra existe e na maioria dos casos é aplicada, agora num evento desta dimensão existiu uma maior tolerância até pela dificuldade em comprovar todos os valores dos bens seguros.
Como está a atividade e quais as perspetivas para este ano?
O mercado está numa fase positiva, com a mediação a liderar este crescimento, nomeadamente nos ramos não vida. Os seguros de saúde, tal como nos anos anteriores, continuam a impulsionar esse crescimento quando comparamos ramo a ramo. Acreditamos que é uma tendência que ainda se vai acentuar mais em 2023, a par da preocupação com a proteção da saúde e o acesso ao setor privado através dos seguros por parte dos portugueses. Essa situação vai potenciar este crescimento ao longo do ano.
Como estão os clientes a reagir ao aumento de tarifas?
A inflação veio trazer uma pressão no aumento de preços dos seguros. Nós, mediadores, temos ajudado os portugueses a minimizar esse aumento procurando propostas mais competitivas e adequadas às necessidades dos clientes como é nossa característica. Mas é natural que parte desta inflação passe por aumentos de prémios, nomeadamente nos ramos Automóvel e Saúde.
De quanto será o aumento?
Os aumentos em Saúde podem estar mais próximos da inflação, os restantes ramos acreditamos que podem ter aumentos menores.
O ramo Vida poderá animar com melhores rendimentos provenientes de taxas de juro mais altas?
É muito provável que os produtos de poupança podem voltar a ter um crescimento superior fruto do aumento das taxas de juro.
Perante um ano economicamente difícil o movimento de concentração entre distribuidores pode aumentar?
A concentração é um fenómeno natural, sendo que o setor tem uma enorme e saudável diversidade e um profissionalismo assinalável. Enquanto associação do setor, procuramos contribuir disponibilizando instrumentos, informação e apoio para que os nossos mediadores acompanhem as principais transformações e exigências do mercado. É isso que nos move.
As seguradoras estão a dar resposta satisfatória às solicitações da mediação quer em aceitação de riscos, quer em preço?
Existem alguns ramos em que começa a ser claro uma falta de oferta. O ramo com maior problema neste momento é o Multirrisco Industrial, uma vez que existem muitas empresas que, fruto da saída ou da redução de interesse por parte de alguns seguradores de maior dimensão, estão com muitas dificuldades em renovar estes seguros. Acreditamos que podemos ter algumas indústrias sem seguro, o que é preocupante e devia ser motivo de reflexão para todos.
Como está o convívio com outros canais de distribuição, nomeadamente com os canais digitais?
A questão do aconselhamento profissional é um dos temas mais importantes que o setor pode discutir como um todo. A permanente “produtização” e massificação dos seguros, como bens de consumo rápido, tem consequências para o dia-a-dia dos cidadãos. Como foi bem notório nas recentes cheias. Contrata-se um seguro e depois descobrimos que (afinal) não segura.
Tem-se assistido a uma mudança de seguradoras dos clientes de seguros de vida associados ao crédito à habitação por via da mediação? O movimento é relevante?
Ainda não. E muito há para fazer neste campo. Por ser obrigatório e por ser negociado na compra da casa, o seguro do crédito à habitação tornou-se numa “receita” extraordinária dos bancos com margens indecorosas. Quando aumentam as taxas de juros e se discute, cada vez mais, a poupanças das famílias é preciso garantir que os portugueses têm opções sem penalizações. Que podem optar por uma solução de seguro mais económica sem serem “castigados” pelo seu banco.
A APROSE vai dar resposta à questão nacional do insurance gap? Há enorme diferença em valor entre bens seguráveis e bens efetivamente segurados?
Essa é, claramente, uma pergunta para as seguradoras.
Em relação ao Fundo para Catástrofes Naturais, acha que é urgente, mesmo que inclua mais um encargo para os prémios finais?
O Fundo para Catástrofes Naturais deveria ser uma obrigação exclusiva do Estado, cujo financiamento e encargos não deveriam ser imputados aos consumidores de seguros.
Vai procurar alargar o número de associados da APROSE? Como?
Mais do que o crescimento em número de associados estamos focados na prestação de mais e melhores serviços de qualidade aos nossos associados. Porque uma parte importante do nosso trabalho está aí: servir os associados. Mas, vamos ter iniciativas que irão demonstrar aos não associados, que a sua adesão à APROSE só robustece a Associação que defende os interesses dos mediadores profissionais.
ECO Seguros 4/01/2023